Não é fácil o que caiu para ti.
Já foi tranquilo conceder 365 dias novinhos e lindos a indivíduos de resoluções já tão corriqueiras e recorrentes. Reprises de velhos hábitos e de velhos sonhos. Sempre tão previsíveis - voltar à academia, à dieta, aos estudos, bater as metas para logo ali criar novas metas e metas cada vez mais distantes, trocar de carro, dar um refresh na casa, na carreira, no look, viajar, aprender um novo idioma, encarar o pós, a rotina, e blá blá blá.
Diferente de conceder 365 dias novinhos e tomara(!) lindos a um coletivo de milhares de pessoas com resoluções já não tão recorrentes ou corriqueiras. Algumas grandiosas pela medida de sua simplicidade.
Morrer de susto é um santo remédio para quem anda esquecido de coisas importantes demais. E adormecido. Ou distraído. Por tempo demais.
Parece que compreendemos que respirar é o único bem imprescindível. E é um luxo que dinheiro nenhum no mundo é capaz de comprar.
Compreendemos que consumir a vida com voracidade, delicadeza, paciência e amor nos salva. Compreendemos que cavar fundo nas nossas virtudes e imperfeições, e fazer dessa convivência algo digno e pacífico também nos salva. No mais, são caprichos e lamentos e excessos de expectativas que só nos aprisionam.
Depois de tanta tristeza e de tantas perdas, acho que andamos abraçados como nunca estivemos. 2020 se superou. Conseguiu a façanha de nos unir em torno de uma mesma voz. De um só sentimento. Famintos por conviver, gratos por viver. E ávidos por ti.
Desejamos honrar o dia de hoje. E ter a chance de honrar a caminhada.
Não pedimos muito. Pedimos apenas que nunca mais nos falte o ar - tão importante para que a gente continue a enxergar.
Que sejas, então, leal, compassivo, enérgico e gentil, um bom amigo. Que sinaliza os caminhos. E abre os espaços. E que os caminhos sejam claros. E os espaços generosos. Que tenhas músculos e pulso. E o coração aberto para acolher as intenções, os insights, as paixões e resoluções - sutis e lindas - que nascem do medo.
Obrigada.
Até.
Comments