Os tempos não estão mais difíceis ou menos difíceis para ninguém. Acho que apenas adquirimos certos hábitos estranhos - para não dizer exóticos e extenuantes - de complicar o que pode ser simples.
Lembro que refeição completa era composta por arroz, feijão, carne, tomate, alface e família. Todos em torno da mesa para comer e conversar. Sem smart tv, smart phones, smart food, smart life. Só gente alimentando fomes e laços. A vida era posta assim. Feijão com arroz tinha o respeito das pessoas na mesa e em qualquer outro lugar.
Evoluímos tanto que viramos seres funcionais. O bom feijão com arroz foi destronado por rituais complexos e requintados de como levar uma vida linearmente feliz, saudável, próspera, inteligente, balanceada, multicanal, politicamente aceitável e compensadora. Uau. Nos rendemos à ansiedade como destino natural. Previsível, não é?
Perdemos a consideração por nós mesmos. Já não fazemos escolhas. Somos escolhidos. Negligenciamos ideais em nome de metas - muitas vezes inatingíveis, que é para garantir o êxtase e a dor da adrenalina. Já não defendemos crenças. Seguimos tendências. Até perder o fôlego. E os amigos - ah! os amigos -, enquadrados como network.
Perdemos de vista nossa privacidade. Sustentamos a teia desconexa e emaranhada e vazia de gente desesperada por quantidade. Ou por algo que sequer sabem definir. Tudo pela promessa cósmica de chegar (e se manter) no topo - qualquer topo, desde que topo. De preferência, bombando como adolescentes. Empanturrados de expectativas. E fartos de frustração.
E aí? O que significa mesmo perder? E o que significa mesmo ganhar? Quantos ainda conseguem distinguir?
Substituir o feijão com arroz autêntico e absoluto por qualquer outra coisa ácida, fria e difícil de digerir é tão somente uma escolha. Acho mesmo que os tempos não estão mais difíceis ou menos difíceis para ninguém. O espírito destes tempos é que anda meio tonto e meio subordinado e meio doente, talvez. Podemos até deixar tudo como está e permitir que a insaciedade - essa louca - nos engula.
Quer saber? Ando enfastiada. Você não? Tá bem, qualquer hora a gente senta junto para tomar uma Olina.
Até.
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