Equilíbrio é sempre uma coisa meio complicada. Pelo menos para mim, na esteira da academia, semi-acordada às 7h30 da manhã com o kit completo de sobrevivência: fones de ouvido, cara inchada de rinite, garrafinha de água, uma determinação que não sei até onde vai e foco, muito foco no ganho que a atividade física me traz - para tudo o que meu corpo e minha mente têm que dar conta para que eu possa dar conta de tudo. Considerando minha condição de distraída em tempo integral, não solto as barras de apoio da esteira. Não que eu me grude - só tocar já me salva.
Vou longe - tenho ideias, escrevo textos e sonho com textos que viram livro, aprovo trabalhos suados, sereno a saudade, repasso o que vai ser o dia ou a vida, e tal - é uma viagem comprida. São justas as razões para eu me valer de algum apoio.
A academia tem as esteiras colocadas de frente para uma avenida. Naquela manhã, um ônibus desses coloridos e altos parou bem ali diante de nós: levava uma turma de crianças, imagino que na faixa dos dez anos. Das janelas e de súbito, dezenas de braços e de mãos e de bocas e de olhos sorriam em nossa direção. Acenavam, atiravam beijos, faziam coraçõezinhos com as mãos - meio que um arremesso solar. Fui sugada. E devolvi, com igual calor, os acenos e os beijos e os coraçõezinhos (que eu fazia com as mãos!). Precisou o ônibus sumir de vista para eu me dar conta que andava livre e ia feliz, sem mãos na barra coisa nenhuma. Solta e leve, eu? E nada de me espatifar esteira abaixo? Pode isso? Sorri com carinho para mim mesma (isso também nos põe em forma, viu?) e retomei a viagem.
Fui longe pensando naquelas crianças de percurso leve - ainda não tinham fechado o circuito experiências-memórias-crenças-pensamentos-emoções-e-blá-blá-blá. Sabe, esse software que comanda a minha, a tua, as nossas vidas? Que nos predispõe antes que a nossa lenta consciência acorde?
Tá bem, é tanta explicação filosófica-psicológica-existencial de cá e de lá que a gente nem sabe para que lado corre ou de qual lado foge. Mas que aí tem coisa - ah! - tem. Ora, algo lindo suga a minha atenção e eu largo o medo de mão e de vez e corro e me solto e não caio? Nem uma escorregadinha? Logo eu? Ah, tem coisa aí, sim.
Olha, o negócio é dar adeus à preguiça que nos empaca. A gente sabe que é preciso um bocado de treino para reequilibrar algumas ideias limitantes que construímos sobre nós mesmos ao longo da vida - essas lindinhas inúteis que dificultam nossos movimentos. Se o suador compensa? Só tem um jeito de saber.
Até.
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