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A primeira vez a gente nunca esquece




Talvez você lembre do clássico - “O meu primeiro sutiã” - eleito como um dos 100 melhores comerciais de todos os tempos e que marcou época. Mostrava, de um jeito sutil, o efeito bomba do primeiro sutiã na vida de uma menina. Era só um sutiã. E mudava tudo - arremessava a menina a uma outra dimensão de si e do mundo.


A sensibilidade afiada dos criativos (todo o criativo tem um pouco de louco ou de filósofo-psicanalista-bruxo) tocou os corações de muita gente com uma linguagem bonita, delicada e precisa ao comunicar o óbvio - a medida de uma experiência está no efeito que ela produz em nós.


Você não esquece a primeira vez de qualquer coisa que tenha mexido com você e modificado você. Você não esquece a primeira vez de qualquer experiência que deixou um rastro de encantamento ou de dor, de decepção ou de esperança, na sua vida.


Você não esquece.


Meses atrás, um amigo me disse: “Estamos em guerra”. É verdade. Somos bilhões de pessoas compartilhando - de forma desigual, diga-se de passagem - uma luta contra um inimigo comum. Muitos de nós só tínhamos visto uma guerra nos noticiários, na literatura e nos livros de história. Não conhecíamos a falta de leito, de medicação, de recursos, de perspectiva e, menos ainda, a falta de liberdade. Não conhecíamos os sintomas da vulnerabilidade crônica - de como é conviver com o medo e com a incerteza. Sem trégua.


Tá aí a nossa primeira vez.


Volto aos bruxos criativos, com o depoimento de uma figura lendária da comunicação e que, não por acaso, deu vida ao comercial do primeiro sutiã: “Teremos mudanças não só por causa da pandemia, mas por coisas que a pandemia deixou mais claro pra todos nós.”

Deixou?


Se é verdade que a primeira vez a gente nunca esquece, as chances são boas. Se o mundo nunca mais será o mesmo? Vá saber.


Perdemos afetos. Perdemos perspectivas. Perdemos fôlego. É urgente não nos perdermos da esperança.


Até.


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