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A coreografia humana

Atualizado: 6 de jun. de 2020






Um intelectual desses nossos despachados, espirituosos e notáveis saiu com uma resposta precisa, cheia de humor e verdade numa entrevista. Perguntado - em profundidade filosófica - sobre o que mudaria nas relações humanas no novo normal: “Prefiro responder com uma pergunta. O que você acha melhor, sexo virtual ou presencial?”


Normal.


Me incomoda essa síndrome persistente e cansada e chata - me parece até meio marciano, às vezes, do “novo normal” - no que toca a nós, gentes.


Não sei como foi o depois nas grandes guerras ou na gripe espanhola. Não estava lá. Só sei que houve muita perda e muita dor. E mudança. Não há pancada de impacto humano e social gigante que não deixe rastro e penumbra. E que não antecipe transformações significativas e ligeiras. Em todos os quadrantes.


Dor é dor. E gente é gente, desde muito antes de eu, você e o vírus nascermos.


Nestes dias, quando o excesso de acesso é bom e importante no que toca à informação, alto lá. Se piscar, a rede te engole. Lives, notícias, opiniões, posts, mensagens, estímulos “must-feel-alive”, cursos, faça-você-mesmo-que-dá-certo, medite, dance, faça atividade física, destrave a criatividade, reinvente, olho na inovação e leia, leia mais. Depois reflita sobre tudo isso. Por favor. E recomece.


Ansiedade? Normal. Porque é isso o que somos: permeáveis e sensíveis. Somos porosos. Somos gente, a certeza que sempre sobrevive.


Enquanto escrevo, coloco uma das antigas pra tocar. Vem aquela voz atemporal e macia e linda que desacomoda até o mais resistente mortal. Ele canta. Eu escrevo. Ele canta. Eu quero. Ele canta. Eu amo. Eu sei. “Sei que nada será como antes, amanhã.”


E sigo. É isso. O nosso normal.


Até.




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